Por Roger Henrique Vieira da Silva
A cantora, empresária e apresentadora Preta Gil faleceu neste domingo, 20 de julho de 2025, aos 50 anos, após complicações em decorrência de um câncer. A informação de sua morte foi confirmada pela equipe da artista em contato com a Splash. Ela estava nos Estados Unidos, onde realizava um tratamento experimental contra a doença. A coluna Fábia Oliveira descobriu que o quadro de saúde da cantora piorou desde a última quarta-feira (16/07), quando ela se sentiu mal durante uma sessão de quimioterapia e os médicos detectaram que a doença havia se alastrado.
Preta Gil anunciou publicamente seu diagnóstico de câncer de intestino em janeiro de 2023, um adenocarcinoma descoberto após ser internada com desconfortos intestinais. Durante o tratamento, ela enfrentou sessões de quimioterapia, radioterapia e cirurgias, além de uma grave infecção generalizada (sepse) que a deixou internada na UTI. Em dezembro de 2023, Preta chegou a anunciar a remissão do câncer após uma cirurgia de reconstrução do trato intestinal e reversão de ileostomia, um período que, conforme ela explicou, requer cinco anos de acompanhamento pois o câncer pode retornar. Contudo, em agosto de 2024, novos tumores foram detectados em diferentes partes do corpo, incluindo dois linfonodos, uma metástase no peritônio e uma lesão no ureter, marcando o retorno da doença. Preta encarou essa batalha com resiliência e transparência, sempre incentivando a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer.
Preta Maria Gadelha Gil Moreira nasceu em 8 de agosto de 1974, no Rio de Janeiro, dois anos após seu pai retornar do exílio em Londres durante a ditadura no Brasil. Ela era filha de Gilberto Gil e Sandra Gadelha, sobrinha de Caetano Veloso e afilhada de Gal Costa. Sua infância foi dividida entre o Rio de Janeiro e Salvador, após a separação de seus pais. Preta era a quarta de sete filhos de Gilberto Gil, que teve filhos com Sandra Gadelha (Pedro Gil e Maria Gil), Belina de Aguiar (Nara Gil e Marília Gil), e Flora Gil, sua atual mulher (Bem Gil, Bela Gil e José Gil). Curiosamente, o tabelião inicialmente se recusou a aceitar o nome “Preta” em seu registro, o que levou Gilberto e a avó materna Wangry a argumentarem que nomes como “Branca” e “Clara” eram comuns, resultando na sugestão de “Preta Maria” para o registro oficial.
Preta cresceu em meio à efervescência cultural da Tropicália, cercada por grandes nomes da música e da arte brasileira, o que moldou sua personalidade artística e visão de mundo. Desde cedo, Preta enfrentou e combateu preconceitos, utilizando sua visibilidade para lutar contra o racismo, a gordofobia e a LGBTQIA+fobia. Ela era uma mulher preta, bissexual assumida e fora dos padrões estéticos convencionais. Um episódio marcante de sua vida ocorreu na infância, quando foi expulsa do tradicional Colégio Andrews, no Rio, após protestar contra uma declaração homofóbica de uma professora ao associar a homossexualidade a doenças, beijando uma amiga em sala de aula. Sua mãe, Sandra Gadelha, também precisou intervir em um episódio de racismo na mesma escola, onde a mãe de uma colega de Preta havia chamado os filhos de Gil de “macacos”. Em sua autobiografia “Os Primeiros 50”, lançada para celebrar suas cinco décadas de vida, ela compartilhou revelações íntimas, incluindo sua experiência com a primeira namorada, Adriana, aos 15 anos, com quem teve seu primeiro beijo no Réveillon de 1990. O relacionamento com Adriana não durou muito tempo, pois Preta se mudou para o Rio após a morte de seu irmão Pedro Gil em um acidente de carro.
Preta Gil nunca escondeu de ninguém com quem perdeu a virgindade: o ator Marcos Palmeira. Seu primeiro marido foi o ator Otávio Müller, com quem teve seu único filho, Francisco Gil, pai de Sol de Maria. Posteriormente, casou-se com Rafael Dragaud, a quem descrevia como quem mais a elogiava, e com o mergulhador Carlos Henrique Lima. Em 12 de maio de 2015, Preta se casou com Rodrigo Godoy. Após oito anos de relacionamento, os dois se separaram em março de 2023, após surgirem boatos de traição do personal trainer durante o tratamento de câncer da cantora, o que ela descreveu como uma das dores mais profundas que já sentiu na vida.
Embora tenha crescido rodeada pela música, Preta inicialmente optou por atuar nos bastidores como produtora e publicitária, chegando a ser sócia da agência Mynd. Foi apenas aos 28 anos que ela investiu na carreira musical, encorajada por amigas como Ivete Sangalo e Ana Carolina. Seu álbum de estreia, “Prêt-à-Porter” (2003), trouxe o hit “Sinais de Fogo” e gerou controvérsia devido à capa, que a mostrava posando nua. Preta, no entanto, enfrentou as críticas com naturalidade, reafirmando sua postura de desafiar padrões e confrontar tabus, consolidando uma imagem de autenticidade e liberdade. Nos anos seguintes, lançou álbuns como “Preta” (2005), “Sou Como Sou” (2012) e “Todas as Cores” (2017), este último celebrando a diversidade com parcerias de artistas como Marília Mendonça, Pabllo Vittar e sua madrinha musical Gal Costa. Além disso, Preta Gil criou o Bloco da Preta em 2009, que se tornou um dos mais populares do Rio de Janeiro e, após um hiato em 2023 para tratamento, celebrou seus 15 anos em 2024. Paralelamente, destacou-se como atriz e apresentadora em novelas da Globo e Record.
Preta Gil, filha de Gilberto Gil e Sandra Gadelha, deixa um legado de coragem, autenticidade e luta por inclusão.